domingo, 8 de dezembro de 2013

M - 460 A GUERRA DA GUINÉ E AS COMPANHIAS AFRICANAS

 A Guerra da Guiné e as Companhias Africanas

Embora já tudo possa ter sido dito sobre a guerra da Guiné o papel das
Companhias Africanas não terá tido, talvez, a referência que efectivamente merece.
Em passado recente assisti a uma tertúlia em Leiria e tomei nota do testemunho de Joaquim Mexia Alves, que julgo merecer mais ampla divulgação.(Na fotografia ao centro).
Aqui fica – à minha maneira – o seu testemunho.
Começou por referir a sua chegada à Guerra, a um mundo diferente, a uma realidade que nada tinha a ver com o que até então todos tinham vivido. Mas África exerce um fascínio que sentiu de imediato. Estava-se em 1971. Tinha 22 anos, o posto de Alferes Mil. Op. Especiais e ia comandar o 1º Pelotão da CART 3492, a que se seguiram o Pelotão de Caçadores Nativos 52, e depois ainda a C. Caç. 15.
Sentiu especialmente essa responsabilidade de comando no primeiro ataque que sofreu à Ponte dos Fulas. Depois sentiu necessidade de “mostrar” aos seus homens que estava ali para o que desse e viesse, e assim resolveu levantar uma mina, numa segurança a uma coluna de abastecimento, correndo um risco desnecessário. Enquanto o suor lhe corria pela cara abaixo os minutos pareceram-lhe horas. E, mais tarde, veio a saber que tinha “lá estado” apenas 10 minutos…
Referiu ainda o mito da “guerra ganha”, justificando o ser um mito com o tamanho da Guiné, (talvez próximo do tamanho do Alentejo), e assim possibilitar os ataques e consequente fuga pelas fronteiras.
Isto para além do facto de que, os ataques mais mediáticos consistiam num esforço total junto dos aquartelamentos de fronteira, deixando o resto da Guiné com ataques esporádicos.

Os primeiros contactos com os homens das Companhias africanas foram muito estranhos. Realmente ao comandar o Pel Caç Nat 52, com soldados de várias etnias diferentes, apercebeu-se das enormes diferenças entre eles, o que tornava bem mais difícil uma unidade e integração.
Mas bem depressa percebeu que lidava com bons combatentes, leais e amigos. A ligação com os seus homens tornou-se profunda. O seu regresso em 1973 foi uma “página” inesquecível da sua passagem pela Guiné. Não esquece abraços nem o brilho dos homens que deixou.
E que poucos meses depois, quando aconteceu o 25 de Abril de 74, foram abandonados pelo País cuja bandeira tinham defendido sob juramento.
 Abandonados, perseguidos e mortos por fuzilamento.

No entanto apesar da guerra e por causa da guerra muita coisa positiva aconteceu, junto das populações, que deve ser recordada. As populações tiveram assistência médica, com profilaxia para doenças como as do sono e paludismo, acompanhada da distribuição de alimentos. Conseguiram-se, através de furos e de tratamento adequados, uma riqueza única para as populações:- água potável. Construíram-se estradas e pontes. E também muitos militares regressaram da guerra com diplomas escolares, depois de nos seus quartéis terem feito exames da 4ª.classe, para além do facto de que muitos militares se disponibilizavam para alfabetizar as populações jovens de guineenses. Ninguém de boa fé pode acusar o Exército Português de ter feito a guerra só pela guerra.
Subscrevo.
JERO


Sem comentários:

Enviar um comentário