sábado, 18 de fevereiro de 2012

M - 410 E S T A T Í S T I C A

ESTATÍSTICA

Contribuição para a estatística, Wislawa Szymborska
Em cada cem pessoas:
sabendo de tudo mais do que os outros:
- cinquenta e duas,
inseguras de cada passo:
- quase todas as outras,
prontas a ajudar
desde que isso não lhes tome muito tempo:
- quarenta e nove, o que já não é mau,
sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:
- quatro; enfim, talvez cinco,
prontas a admirar sem inveja:
- dezoito,
induzidas em erro
por uma juventude afinal tão efémera:
- mais ou menos sessenta,
com quem não se brinca:
- quarenta e quatro,
vivendo sempre angustiadas
em relação a alguém ou a qualquer coisa
- setenta e sete,
dotadas para serem felizes:
- no máximo vinte e tal,
inofensivas quando sozinhas
mas selvagens quando em multidão:
- isso, o melhor é não tentar saber nem mesmo aproximadamente,
prudentes depois do mal estar feito:
- não mais do que antes,
não pedindo nada da vida excepto coisas:
- trinta, mas preferia estar enganada,
encurvadas, sofridas,
sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas
- mais tarde ou mais cedo, oitenta e três,
justas
- pelo menos trinta e cinco, o que já não é nada mau,
mas se a isso juntarmos o esforço de compreender
- três,
dignas de compaixão:
- noventa e nove,
mortais:
- cem por cento,
número que, de momento, não é possível alterar.
Wislawa Szymborska


Ouvi este poema ontem, dito pelo escritor e psiquiatra João Lobo Antunes, no programa da RTP “ESTADO DA NAÇÃO”. Foi seu colega de painel D.Manuel Clemente, Bispo do Porto.
Valeu a pena.
É daqueles momentos que nos levam a pensar que é um privilégio estar vivo e atento ao que se passa à nossa volta.

Como o saber não ocupa lugar transcrevo seguidamente a notícia do jornal “PÚBLICO”, respeitante à morte da poetisa polaca.


JERO


Aos 88 anos, em Cracóvia
Morreu a poetisa e Nobel da Literatura Wislawa Szymborska
01.02.2012 - 21:30 Por AFP
A escritora polaca deixa uma vintena de colectâneas de poemas (REUTERS)
A poetisa polaca Wislawa Szymborska, Nobel da Literatura de 1996, morreu esta quarta-feira, aos 88 anos. Deixou uma obra que é uma reflexão filosófica e lúcida sobre o mundo, impregnada de humor e de um grande lirismo.


Autora de uma vintena de colectâneas de poemas, marcados por uma reflexão filosófica sobre as questões morais da nossa época, escritos numa forma poética muito cuidada, Szymborska manteve-se afastada da vida política.
Mas em Maio de 2007 juntou-se aos intelectuais polacos que acusaram a direita conservadora dos irmãos gémeos Lech e Jaroslaw Kaczynski (então Presidente da República e primeiro-ministro) de “não compreenderem” a democracia e “tentarem enfraquecer e renegar instituições de um Estado democrático como os tribunais independentes e as os media livres”.
Em 1975, ainda sob o regime comunista, juntou-se também aos intelectuais que protestaram contra a decisão do Partido Comunista Polaco de inscrever na Constituição a cláusula de “aliança eterna” com a União Soviética.
A Academia Sueca valorizou-a como “representante de um olhar poético de uma pureza e de uma força raras”.
Os seus poemas, com uma grande variedade estilística, são claros, geralmente curtos, frequentemente dando-se ares de aforismos. Inspirada por Descartes, mas também por Pascal ou Montaigne, agnóstica, pratica a dúvida metódica.

“Morreu tranquilamente, durante o sono”, na sua casa em Cracóvia, anunciou o seu assistente Michael Rusinek.


Mortal 100%,
 mas com uma tranquila partida "na sua hora".
JERO











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