sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

M - 396 EM TEMPO DE NATAL RUI RASQUILHO PÕE ORDEM NA TRADIÇÃO ORAL

Equívocos e precisões (2)

Continuamos hoje a referir como a tradição oral e a falta de crítica histórica leva a que alguns erros perdurem relativamente ao Mosteiro de Alcobaça.
Em 1702 no triénio de Frei Pedro de Alencastre, no reinado de D.Pedro II, inicia-se a construção da actual fachada da Igreja do Mosteiro que se concluirá vinte e três depois em pleno reinado de D.João V, no tempo em que se sabe estar projectado um edifício para a Livraria Nova do Mosteiro.
Há quem refira ter sido Frei João Turreano, monge de S.Bento, que desenhou e acompanhou as obras. Ora o arquitecto morreu em 1679 com 69 anos, e embora se saiba que fez obras em Alcobaça, não parece dever-lhe ser atribuído o projecto. Resta saber quem dirigiu as obras e lhe fez o risco..

Sala dos Túmulos
Séc.XVIII
Panteão real neogótico, cujo projeto é atribuído ao arquiteto Guilherme Elsden, e onde se encontram os túmulos de D. Urraca, mulher de D. Afonso II, de D. Beatriz, mulher de D. Afonso III e dos infantes, D. Fernando, D. Vicente e D. Sancho.




Em 1774 no mesmo ano em que Elsden coloca o globo e o resplendor no altar-mor na Igreja do Mosteiro ter-se-á iniciada a construção do enorme edifício da Biblioteca, onde viriam a ser alojadas as livrarias e cartório que há séculos estavam num espaço próprio na nave poente do antigo dormitório medieval.A Rainha D. Maria visitou o cartório e a livraria aí instalados em 1786.
Em 1798 Heinrich Link visita o Mosteiro e refere «está a ser arranjada uma nova e magnífica sala para a biblioteca». Ou seja o piso sobre o cartório deveria estar em trabalho final e o edifício exterior concluído. Todavia tudo indica que só após as Invasões Francesas estariam no seu novo local.
Por estas referências nem o terramoto de 1755 nem a cheia de 1788 afectaram o edifício por este não existir, mas afectaram por certo o terreno que terá ficado instável.
Em 1904 cai uma parte importante do tecto (30 m. x 1,50 m.) “devido ao peso exercido pelo barrotado da cobertura”.
Hoje, com o apoio do QREN e por um milhão de euros o edifício tem um novo telhado e as fachadas foram alindadas. Espera-se a degradação nos próximos 25 anos, se não houver conservação preventiva ou conservação integrada com instalação de um hotel.
As quatro estátuas mitológicas que ornam o parapeito da balustrada do jardim do Claustro do Cardeal estavam inicialmente na borda do lago do Obelisco, oferecendo particular beleza ao antigo jardim por onde passa a levada, agora seca, e que por enquanto tem três fontes de traça barroca. Uma delas em ruínas por estar fora da cerca junto ao desvio da levada para servir a que foi a única serração do Mosteiro.
O Rossio de Alcobaça é frequentado pelos cidadãos da Vila que se dirigiam à igreja do mosteiro desde o séc.XV.Mais tarde a Igreja, devido às disposições tridentinas (1562) é aberta à frequência dos fiéis sem restrições.

A existência do pelourinho em gravura do Sec. XVIII prova que a administração municipal se exerce no espaço do Rossio, sendo a Cerca de Dentro a própria fachada poente do Mosteiro.


Rui Rasquilho





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