sábado, 2 de julho de 2011

M - 363 CONVENTO DE SANTA MARIA DA VITÓRIA

TÃO DEPRESSA E TANTOS !

Foi a contragosto que Dª.Maria das Dores alterou a rotina dos seus últimos meses de vida para acompanhar algumas amigas numa excursão ao Mosteiro da Batalha. Era a sua primeira viagem depois da morte do seu marido. Tinha procurado na solidão dos seus pensamentos e no silêncio das quatro paredes da sua casa um novo estilo de vida para uma situação de viuvez inesperada.
Com o Mosteiro à vista deixou-se contagiar pela boa disposição das amigas que ainda antes da visita já estavam a falar num saboroso almoço, que se ia seguir depois de verem as “Capelas Imperfeitas”.

A visita guiada prendeu-a mais do que pensava e deixou-se contagiar pela explicações ditas com paixão por quem tão bem conhecia o Mosteiro.A luz dos vitrais maravilhosos preenchia-lhe a alma à medida que caminhava pelo Convento de Santa Maria da Vitória como o guia também chamava ao que sempre tinha ouvido referir como o Mosteiro da Batalha. Chegada aos Claustro de Afonso V e aos lavabos monumentais as amigas convenceram-na a muito custo a cumprir uma tradição a que poucos visitantes se furtavam. Tinha que se pôr de costas para o lavabo de três andares e lançar uma moeda. Antes disso tinha que formular um desejo e em função do local onde caísse a moeda assim se cumpriria o que tivesse antes desejado. Se quisesse um novo amor e a moeda caísse no lavabo mais alto o seu desejo seria satisfeito em um dia. Se fosse no lavabo do meio demoraria quinze dias. E se fosse no tanque o desejo demoraria um mês a concretizar-se.
Maria das Dores para não desiludir as amigas alinhou na brincadeira e atirou a moeda. Ouviu gritos e palmas. A moeda tinha caído na parte mais alta do lavabo.
Riu-se a bom rir e admirou-se de como estava a ser divertido aquele momento, que se seguia a tantos meses cinzentos e tristes de solidão.
Mas o melhor estava para acontecer.
Quando se virou para o lado direito do Claustro viu que caminhavam para o local onde se encontrava alguns militares que tinham acabado o seu turno na Sala do Soldado Desconhecido.
Olhou para os militares e disse para as amigas:«Tantos e tão depressa é que eu não esperava”.
A partir desse momento Maria das Dores convenceu-se que afinal merecia iniciar outro ciclo de vida.
A caminho das “Capelas Imperfeitas” ouviu o guia dizer com ênfase: A visita acaba aqui nas “Capelas Inacabadas”. A sua cúpula é a mais alta do mundo.
Mas …não tem cobertura pensou a Maria das Dores. O guia pareceu adivinhar-lhe o pensamento e esclareceu o grupo de visitantes. Aqui o limite é o céu. Não pode haver cúpula mais alta, não é verdade!?
Todos estiveram de acordo.
A caminho do “Restaurante das Maricotas”, em São Jorge, a Maria das Dores sentia um apetite e uma vontade de viver de que quase se envergonhou.
Quando chegaram “as entradas” provou e gostou da morcela de arroz. Foi um almoço muito bem disposto. Não o repetiu …mas não se esquecia da sua sorte no lançamento da moeda:
«Tantos e tão depressa é que eu não esperava».
Tinha que vir mais vezes ao Mosteiro da Batalha ou, como dizia o guia, ao Convento de Santa Maria da Vitória.
Pelo menos uma vez por mês...
JERO









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