terça-feira, 20 de julho de 2010

M 280 - JOAQUIM FERREIRA DE ARAÚJO GUIMARÃES



Personalidades alcobacenses 2 – Joaquim Ferreira de Araújo Guimarães (1829-1898)

Nasce em Santiago do Lordelo (Guimarães) a 21 de Maio de 1829. Em 1842 ruma com a família para Pernambuco (Brasil) e, em 1868, radica-se em Alcobaça. Empreendedor e inovador, a sua actividade abraça a lavoura, a indústria e a política.
Aproveitando o boom da vinha pós-filoxera manda replantar os vinhedos e moderniza a adega da Quinta da Roda. Estas instalações são apetrechadas com um esmagador de uvas arredando a pisa a pés, uma prensa de cinchos tipo Mabille em substituição das vetustas prensas de varas, uma bomba aspirante para lotar os vinhos.
Dedica-se também à actividade de moagem possuindo um moinho de quatro pedras na Ponte da Conceição. Para abastecer a casa de habitação de luz eléctrica aproveita a força da levada que assiste ao moinho instalando uma turbina e um dínamo. Pode ler-se num contrato de arrendamento celebrado em 16 de Dezembro de 1901 que: "Da corrente d'agua que serve de motor ao moinho arrendado e que também serve de motor ao dynamo da luz eléctrica estabelecida no mesmo prédio não poderão os rendeiros (…) utilizar-se como motor do moinho desde o anoutecer até à meia noute e também da meia noute em diante, nas noutes em que for necessária luz para o clube e para casa d'ella senhoria alem da meia noute, pois que n'aquelas horas toda a corrente d'agua será empregada na produção de luz eléctrica".
Na companhia de Manuel Vieira Natividade funda, em 1877, uma fábrica de compotas e conservas de frutas. A fábrica de conservas, compotas de frutas e marmelada, de Manuel Vieira Natividade e Araújo Guimarães, exportava os seus produtos para os arquipélagos atlânticos, África, Brasil e Inglaterra.
Mas a Companhia de Fiação e Tecidos foi a verdadeira jóia da coroa da sua vida. Esta empresa vai instalar-se nas quedas de água da Fervença, onde os monges de Alcobaça possuíam dois moinhos de rodízio, uma azenha e um lagar de azeite. Bernardo Pereira de Sousa que com a venda dos bens nacionais tinha adquirido em 1839 o lagar de azeite, o moinho de cima e do meio já sonhava em aproveitar-se do motor hidráulico para fins industriais. Mas a ideia só vai avante com Araújo Guimarães. Em 1875, Ana Pereira de Sousa, viúva de Bernardo Pereira de Sousa, dá de aforamento perpétuo os edifícios, terrenos e vala a Araújo Guimarães, com a condição do foreiro instalar no prazo de quatro anos uma fábrica de fiação e tecidos, o que vem a acontecer em 1878. A expansão da Companhia leva a um novo aforamento (1889) de uma azenha monástica, trata-se do moinho das Freiras de Chiqueda de que era detentor o Dr José Sanches de Figueiredo Barreto.
A localização da Companhia na Fervença era estratégica não só pelo motor hidráulico, mas também pelo combustível que a floresta de pinho proporcionava às caldeiras, como se pode constatar nos repetidos contratos de fornecimento de lenhas. A Companhia por acções singrou e modernizou-se, em virtude do mercado e dos capitais, nomeadamente graças ao crédito que a burguesia alcobacense lhe concedeu e que, diga-se de passagem, foi recompensado pelos abastados dividendos.
Para além das artes da lavoura e da indústria Joaquim Ferreira de Araújo Guimarães fundou e dirigiu o Asilo da Infância Desvalida do Distrito de Leiria e ainda exerceu os cargos administrador do concelho e presidente do município..
Em 1898 Araújo Guimarães sucumbe vítima de uma pneumonia.
 Um ano após a sua morte foi inaugurado no átrio da fábrica um busto de bronze perpetuando a memória do amado fundador e director da Companhia.


Nota: Esta série biográfica é, em parte, devedora da obra Figuras de Alcobaça e sua Região de Bernardo Villa Nova.


António Valério Maduro

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