sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

M135-APONTAMENTOS TAURINOS




HISTÓRIA DA TAUROMAQUIA
Rogério Perez, Pepe Luís, Fernando Baptista, Leopoldo Nunes, Nizza da Silva e Jayme Duarte de Almeida publicaram a (excelente) História da Tauromaquia em 1953.

Eis algumas linhas sobre o princípio do século XX (e a mudança de regime):


."Neste princípio de século outro facto ficaria a assinalar o toureio equestre da nossa terra: a morte de Fernando de Oliveira, ocorrida na praça do Campo Pequeno na tarde de 12 de Maio de 1904.
. ..

Mais tarde, por volta de 1866, a praça da Nazaré era testemunha de outro desastre impressionante, pouco conhecido e lembrado pela modesta categoria do lidador que, só através do sacríficio da própria vida conseguiu passar à posteridade. Foi o cavaleiro Maradas que um toiro de Francisco Bate-folha trespassou, pondo termo a uma carreira humilde como as que mais o foram.


Fernando de Oliveira, pelo contrário, era um nome de relevo na tauromaquia nacional e porque é, a bem dizer, uma figura contemporânea, esse facto dá uma presença ainda impressionante ao desastre ocorrido nessa tarde de Maio, na arena lisboeta. Por isso, o relevo que tomou a tragédia perante a história tauromáquica de Portugal e, sobretudo, nos anais da praça do Campo Pequeno.
.Corriam-se toiros do Marquês de Castelo Melhor e de Vitorino Fróis, cinco de cada ganaderia. Com Fernando de Oliveira toureavam a cavalo José Bento de Araújo, Simões Serra e Joaquim Alves. Ambiente de alegria, enriquecido com a presença da Família Real.
.O primeiro toiro, de Vitorino, foi lidado por José Bento de Araújo, saindo para o segundo Fernando de Oliveira, montando o seu cavalo Azeitona, que o toureiro havia comprado a Pinto Barreiros. Quando entrou na praça o toiro do Marquês de Castelo Melhor, número trinta, Ferrador de nome, causou espanto a sua corpulência. Mas não era verdadeiramente bravo. Dava até sintomas de já conhecer a lide, talvez em resultado da retenta a que fora submetido com o fim de o destinarem para semental. Fernando de Oliveira conseguiu prender-lhe o primeiro ferro à custa de lhe pisar os terrenos. Castigado, o toiro tornara-se mais perigoso ainda, e quando o cavaleiro tentou nova sorte, desta vez à meia volta, arrancou com furioso ímpeto, e, apanhando a montada pelas pernas, ergueu-lhe a garupa, foçando o cavaleiro a ser lançado ao solo. A queda fora desastrosa e o cavalo cairia também, embrulhando-se toureiro e montada ante a decidida investida do toiro. Surgem os toureiros ao quite, o cavalo corre desordenadamente pela arena, mas Fernando conserva-se no solo, inanimado. Surge a impressão da tragédia irremediável, o que poucos momentos depois se confirmaria.
(Fernando d'Oliveira em 1903 - documento de Rui Araújo.)
.
Não é fácil, nas circunstâncias em que o desastre se deu, pormenorizar a acção até se apurar o golpe que terá vitimado o toureiro. Como geralmente acontece em casos desta natureza, as opiniões foram diversas. Diziam uns que o toiro não chegou a alcançar o toureiro que, caindo desamparadamente no solo, teria sofrido a fractura da base do crânio; afirmavam outros que essa fractura fora provocada pela pancada de um estribo; garantiam outros ainda que o cavalo, ao levantar-se, teria atingido o cavaleiro com um coice, e, por último, houve quem asseverasse que após a colhida, pretendendo levantar-se, Fernando de Oliveira esteve um momento de joelhos, o suficiente, porém, para que o toiro investisse, tornando irremediável o desastre.

Fosse como fosse, nessa tarde de 12 de Maio de 1904, a tauromaquia portuguesa vestia crepes pela morte desse valente toureiro, que soube cativar a simpatia de todas as classes sociais e a admiração dos exigentes, pelo seu correcto toureio e pelas invulgares qualidades de equitador.
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2 comentários:

  1. Caro José Eduardo Oliveira

    Chamo-me Jorge Vitorino Avelar Froes, sou bisneto de Vitorino Froes (faz este ano de 2012 150 anos que nasceu). Eu e alguns parentes estamos a coligir dados sobre este nosso bisa e da mulher, Julia Rino, e famílias, para uma possivel edição dum livro.
    Será que nos pode ajudar com elementos que tenha disponíveis sobre o assunto?

    Desde já lhe agradeço

    Melhores Cumprimentos

    Jorge Froes
    jorgevfroes@gmail.com

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  2. Lembro -me da Herminia Silva cantar um fado sobre tourada que a certo ponto dizia assim:

    "É o Tinoco, o Mauricio e o Vitorino Froes
    O tourear do Nuncio e do Simão"

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