quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Professor por uma hora e meia!

ALUNOS PROBLEMÁTICOS !?
(Na 1ª.pessoa)
A convite da Professora Margarida Pires fui à Escola Frei Estêvão Martins falar sobre a minha experiência da Guerra do Ultramar.
Aconteceu no passado dia 28 de Abril, de manhã, na Biblioteca da Escola.
Pela minha frente tinha uma hora e meia e a responsabilidade de falar a alunos “ditos” problemáticos.
Seriam uns vinte que preencheram todas as cadeiras reservadas para a “aula” do velhote da guerra.
Ficaram comigo duas senhoras Professoras e uma funcionária da Biblioteca.
O “cenário” ficou completo com a projecção da primeira “página” do “power point” feito no dia anterior até às tantas a madrugada com a ajuda do meu amigo Marco Correia.
Resolvi ficar entre a imagem projectada na parede e os meus “alunos”por uma hora e meia.
De frente para a turma identifiquei facilmente os mais “malandros”. Pelos sorrisos, pela postura descontraída de demasiado à vontade frente a um desconhecido.
Começou a “aula” e disse-lhes desde logo que podiam interromper-me quando quisessem para fazerem as perguntas que entendessem.
Expliquei no início que falava em “2 tempos” da minha vida: como militar com 24 anos e como civil maior de 65 anos!
Aproveitei a oportunidade para os testar sobre os seus conhecimentos de aritmética.
Fiz 4 anos no dia 4, do 04 de 1944!
São capazes de adivinhar a minha idade? Quanto anos tenho?
Ficaram um bocado atrapalhados.
O que mais se aproximou disse que eu tinha 68! Disse-lhe que estava quase certo e avancei na “aula”.
A primeira pergunta foi “malandra”.
Quando falei de uma manada de vacas fui questionado sobre o tipo de “vaca” a que me referia. Percebi facilmente a intenção do jovem e respondi-lhe que as vacas de que falava eram todos de “famílias sérias”…
“Estiquei” a conversa o mais que pude sobre as imagens que iam sendo projectadas tentando não fatigar demasiado a “assembleia”…
Tive alguma dificuldade mas pareceu-me que consegui o interesse dos ouvintes e ninguém adormeceu.
Quando acabei todos bateram palmas o que me sensibilizou bastante.
Mas…faltavam ainda 20 minutos para acabar”a hora e meia”.
Ficámos a conversar. Houver perguntas e mais perguntas. Interessados, simpáticos e sempre agradáveis.
Acabei “o tempo” com uma história de um crocodilo no Rio Cacheu que ficou “gago” com uma partida de uns militares da minha Companhia. Na Guiné. Nos idos de 1964.
Riram com gosto daquela “estória” maluca que, só em parte, aconteceu.
Cá fora, já no recreio da Escola, um deles aproximou-se de mim e agradeceu mais uma vez. Deu-me um abraço. Fiquei comovido.
Miúdos problemáticos aqueles!?
Quem sou eu para contrariar o “diagnóstico”!
Mas sinceramente pareceu-me que a haver problemas eles “moravam”também em gente mais velha…
Vou recordar por muito tempo aquela manhã do dia 28 de Abril!
JERO

1 comentário:

  1. olá amigo
    o jovem é um romântico. A experiência de vida fá-lo ver as coisas de um modo mais sereno e mais maduro.
    Pessoalmente, acho que não há crianças problemáticas. Há pais e meios envolventes problemáticos onde eles crescem sem atenção e carinho.
    Hoje, os pais estão mais preocupados em comprar uma boa consola de jogos (que os distraiam para não os incomodarem) do que em brincar e conversar com eles.
    Acredito que eles sintam falta de algo, que nem sabem bem do que é porque nunca o tiveram mas sentem um vazio.
    A culpa é sempre da falta de tempo (dizem eles), da falta de vontade (digo eu).
    As iniciativas como aquela por onde passou e deu o seu contributo podem ajudá-los a ver que há quem lhes dê atenção. Que o mundo tem outras formas e que talvez, talvez um dia, eles queiram conhecê-las

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